terça-feira, 13 de abril de 2010

O aspecto iniciático da morte

Foi o mistério da morte que incitou o ser humano primitivo a refletir sobre sua condição e seu destino. Durante milênios ele viveu de forma individualista, com o único objetivo de assegurar sua subsistência, limitando-se a satisfazer as necessidades físicas e a proteger-se dos animais selvagens.
Com o tempo desenvolveu o instinto gregário e sentiu o desejo de viver em comunidade. Assim fazendo, despertou sua natureza emocional e criou laços afetivos com seus semelhantes, especialmente com os membros de sua tribo e de sua família. Daí por diante, passou a sentir uma grande dor cada vez que um dos seus morria, então buscou um meio de materializar sua afeição. Foi assim que surgiram as primeiras sepulturas e que nasceu o culto aos mortos, o próprio fundamento das primeiras religiões da história conhecido, incluindo nisso as próprias pirâmides.
A morte faz parte dos acontecimentos que freqüentemente provocam medo e dúvida. Ela é muitas vezes precedida de sofrimentos físicos ou morais, o que contribui para torná-la ainda mais angustiante. Mas esta partida para o além não é tão terrível quanto geralmente se acredita e deveria ser abordada com serenidade. Se ela suscita tantos temores, é porque o ser humano ignora que ela, na verdade, conduz a um estado transcendental, que nos aproxima da condição divina. Neste sentido, as religiões não insistem suficientemente neste aspecto iniciático da morte e, por outro lado, desnaturaram o seu sentido, transformando-a num tabu e objeto de apreensão para muitos de seus fiéis.