domingo, 10 de março de 2013

O Nascimento do Cristianismo

Muitos séculos se passaram desde que Jesus veio a Terra, mas o impacto de sua personalidade e de sua missão foi tão grande que deu origem a uma religião, o cristianismo. Mas é importante esclarecer que o próprio Jesus nunca teve a intenção de fundar uma Igreja; aliás, nem foi este o caso de Moisés, Buda ou Maomé. Ele encarnou na Terra para cumprir a Redenção da humanidade e lhe trazer um influxo espiritual sem precedentes. Paralelamente, trouxe aos homens uma mensagem de esperança, baseada na fé em Deus e na prática do Amor Universal. Sua missão foi então a de Redentor e Mensageiro Divino, e não a de fundador de uma religião. Em lugar de fundar uma nova religião ele desejava dar um impulso às religiões já existentes. Neste sentido é preciso observar que foi aos próprios judeus que ele se dirigiu durante o seu ministério. Como testemunham os evangelhos ele nunca se opôs as suas crenças, empenhando-se ao contrário em demonstrar os fundamentos místicos da Torá. Isto prova que ele não tinha intenção de combater o judaísmo ou de substituí-lo por uma nova fé. Seu único propósito era de purificá-lo dos dogmas a que tinha dado origem no decorrer dos séculos, sob a crescente influência do clero judaico. Para isto ele esperava receber o apoio do Sinédrio, o que não aconteceu. Em nenhum momento Jesus pediu a seus discípulos que fundassem uma religião ou que lhe dedicassem um culto após sua “morte” (após a crucificação voltou a ser grande o Mestre dos Essênios). A este respeito, a célebre frase “Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja" não consta nos evangelhos apócrifos. Podemos supor então que ela foi acrescentada mais tarde para justificar a fundação do cristianismo. É evidente que o Novo Testamento, tal como nos é apresentado hoje em dia, sofreu muitas modificações, para não dizer alterações desde sua origem. Aliás, esta observação é válida para as escrituras sagradas de todas as religiões atuais, pois todas elas foram objeto de numerosas adaptações ao longo dos séculos. Com relação ao Novo Testamento, é importante saber que entre os quatro evangelistas (Mateus, João, Marcos e Lucas), só os dois primeiros foram discípulos de Jesus. Do ponto de vista histórico e tradicional, o evangelho de Mateus (o único escrito em Aramaico, os outros em grego) foi terminado após a sua morte, por um de seus companheiros. Só João foi o autor do evangelho que lhe foi atribuído, escrito na Ilha de Patmos, na Grécia, quando tinha 96 anos, onde também escreveu o Apocalipse. Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de “sinópticos” porque os relatos que fazem da vida de Jesus são semelhantes, não somente na cronologia e no conteúdo dos eventos relatados, mas também nos termos empregados. O evangelho de João enfatiza o aspecto mais esotérico da missão de Jesus. Depois da morte dos discípulos diretos de Jesus, sua doutrina foi mantida por numerosas comunidades, cada uma delas colocada sob a direção de um guia espiritual, designado pelo nome de “presbyteros” ou “episkopos” em certos manuscritos gregos. Originalmente, estes guias espirituais, escolhidos por sua probidade e seu valor místico, restringiam-se aos ensinamentos de Jesus tais como haviam sido transmitidos. Mas, com o tempo, eles os descaracterizaram em proveito de uma liturgia que incluía rituais cada vez mais complexos e pomposos. Finalmente, um papa foi escolhido entre os bispos como representante do Cristo. Assim nasceram a religião cristã e o primeiro de seus sucessivos cleros. A partir da nomeação de um Papa, como autoridade suprema do clero cristão, todas as comunidades episcopais tiveram de se conformar ao mesmo credo e tornou-se necessário definir um cânon, ou seja, um sistema oficial de crenças e ritos. Esta providência exigiu vários séculos e foi necessário esperar os concílios de Nicéia (na Turquia), de Constantinopla, de Éfeso e da Calcedônia, que ocorreram respectivamente em 325, 381, 431 e 451 da nossa era, para que fosse fixado o credo básico do cristianismo. Esses concílios tiveram o apoio do império romano, servindo também para firmar e ampliar as áreas de seu domínio temporal e territorial. Podemos concluir dizendo que hoje em dia, infelizmente, devemos reconhecer que muitos dogmas cristãos se afastaram das doutrinas místicas que Jesus apresentou aos seus discípulos. Quem sabe o novo papa escolhido possa mudar essa história, reconhecendo que os dogmas cristãos possam ser revistos e abrindo aos pesquisadores universais os arquivos secretos do Vaticano, para que os fiéis cristãos possam aos poucos descobrir os verdadeiros ensinamentos primitivos da antiga Galiléia. Conforme o que Jesus havia pedido aos seus discípulos, os guias espirituais da época se contentavam em transmitir uma abordagem diferente de Deus e da finalidade da existência humana, convidando todos a “amarem o próximo como a si mesmo” e a buscarem a felicidade na veneração a Deus. Que sejam eliminados os rituais pomposos das Igrejas cristãs, valorizando o silêncio e a reflexão para a verdadeira mensagem crística, mais humanista e mais adaptada a todos os povos, livre de todos os preconceitos que jogam uns contra os outros. Que assim seja!